Diário de Criança
terça-feira, outubro 07, 2014
Obrigada
Não era um dos meus melhores dias. Eu estava triste. Com fones de ouvido, esperando um ônibus qualquer, travestida de normalidade — com jeans, blusa preta e mochila, passava perfeitamente despercebia. Mas uma senhora sentou ao meu lado e ficou me olhando fixamente. Ela era bem velha, a beleza já havia sumido do seu rosto há anos, tinha o pescoço um pouco torto e as bochechas assimétricas. Já seus olhos eram carregados de bondade e, em meio a todo aquele movimento, ela percebeu que aquele não era um dos meus melhores dias... Não falou nada, só ficou ali me olhando como quem queria me pegar no colo. Depois levantou arrastando os chinelinhos e se foi. Eu quis agradecer o carinho.
domingo, fevereiro 16, 2014
Os desajustados do mundo
Gosto dos desajustados. Sou dessas
que a família olha com desconfiança: “parece que nunca vai se acertar na vida”.
Tenho simpatia pelos que às vezes andam deprimidos se sentindo diferentes de
tudo que está ao redor. Acho que essas são as pessoas mais inteligentes, porque,
sim, está mesmo tudo errado! Mas essa gente não vem embalada em bons empregos,
carros e cabelos. Alguns tomam remédios, têm histórias com drogas, viveram
infâncias e adolescências ruins. Sim, essas pessoas são as que sentiam desde
que nasceram, mesmo sem ainda conseguir explicar, que a sociedade é doente.
Sempre tenho vontade de chorar quando ouço Geni e o Zepelim, pois acho que ela
estava certa em preferir amar com os bichos. Gosto ainda mais daqueles que,
tendo entendido o motivo do desajustamento, passam a vida tentando colocar o mundo
de cabeça pra cima. Acho bonito da parte deles. Nas horas vagas esse tipo de
gente é capaz de descer uma ladeira dentro de um carrinho de supermercado,
rindo como loucos.
segunda-feira, dezembro 23, 2013
Sobre o volume das perguntas
Há tantas perguntas por dentro
Queimando
O mundo está torto?
Eu que estou de cabeça pra baixo?
Tentei perguntar a um passante
Mas falei tão baixinho
Que ele nem me ouviu
Gritar me cansa
e nem refresca
e nem refresca
terça-feira, novembro 26, 2013
Mais alto do que se pode ver
Primeiro o arrancaram de sua pátria para viver como bicho do outro lado do mar.
Sugaram até sua última gota de sangue.
Depois expulsaram seus filhos para o alto.
Tão em cima que doía olhar.
E era preciso descer todo dia pra ganhar o pão.
E muitas vezes não tinha trabalho pra quem vivia lá.
E às vezes era preciso roubar.
E por vezes era melhor se drogar.
Mas então todo o chão já não bastava e os ricos queriam subir.
(Dizia-se que queriam a vista, mas desconfiei que estivessem de olho era naquele morro de amor).
Agora mandam seus netos descerem.
E não basta tirar-lhes a vida, a casa, o morro...
Tentam apagar sua história.
Faz todo sentido.
Criminosos apagam vestígios.
terça-feira, agosto 20, 2013
Zênite
Hoje aprendi uma nova palavra
meio estranha
e meio linda
zênite
o ponto mais alto do céu
– e ele me provou com um desenho científico
Descobri onde fica
o fecha parênteses
do quanto eu te gosto
(
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