sábado, setembro 22, 2007

"Eu era um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor. Nada do que eu lia tinha a ver comigo. Eu tirava livro após livro das estantes. Por que ninguém dizia algo? Por que ninguém gritava? Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava."



(Charles Bukowski - 5/6/1979 - Sobre "Pergunte ao Pó" de John Fante)

Conscience



Márcia Pinho

quarta-feira, setembro 19, 2007

Enfim ela parou. Viu-se parada em meio a um grande pátio com chão de ladrilhos e perguntou-se como chegara ali. Lembrou dos passos que dera antes, lembrou do restante do dia. Como correra! - pensou - e descobriu que durante os últimos dezenove anos apenas correra. Em busca de quê? Fugindo do quê? Era o que se perguntava. Então sentiu saudades sinceras de uma pessoa que, embora não a merecesse, um dia mimara muito. E teve sincero asco de outras tantas que também não lhe mereceram. E sentiu um sincero carinho por todos que a amaram incondicionalmente. E, nos passos que a levaram dali, sentiu-se meia vida mais leve.

terça-feira, setembro 11, 2007

As regras do jogo

Existiam, naqueles entremeados de relações, coisas muito ou nada convencionais, havia núcleos e subnúcleos de conselheiros e confidentes, havia beijos na boca, abraços sinceros e abraços forçados, lágrimas, sexo, gargalhadas sinceras e gargalhadas forçadas, havia homossexualidade, hobbies em comum que aproximavam e proximidades sem tripé de apoio algum, havia muitas histórias pra contar, havia muita inteligência, mas também atitudes impensadas, infundadas. Havia brindes.
Havia paixões. De todos os tipos formas, tamanhos, cores e texturas. O primeiro gostava da segunda que sabia e fingia que não sabia, a segunda gostava do terceiro que também era amado pela quarta, amada pelo quinto, a quarta sabia e não queria e sobre o terceiro, se sabia ou do que queria, ninguém nunca sabia. O sexto amava o sétimo. Também se sabia pouco ou quase nada do sétimo e da oitava, e o quinto, além de amar a quarta, também amava todo mundo.
Havia um mundo dentro e um fora dali, havia 16 olhos, olhando para 32 mundos diferentes. Cada um poderia sair no momento em que desejasse, não havia pregas nem correntes, mas sair poderia causar arrependimento eterno, embora ficar pudesse doer, e muito. Mas o importante era isso. O importante era sentir.

sábado, setembro 08, 2007

Acordara mais cedo que o comum. A angústia enchia o estômago. Era ânsia de vômito o que sentia. Embora a noite anterior tivesse sido agradável, não fora agradável o bastante para modificar aquela sensação que, não adiantava, não havia palavra que descrevesse melhor, angústia.
Lágrimas, às vezes tem a impressão de que nunca vão acabar, vêm de uma fonte tão eterna quanto o tempo que durar a dona delas. Seu maior medo? Deixar que o que lhe é externo interfira no que lhe é mais sagrado, o interno. Pergunta-se sempre quando tudo vai acabar. Pergunta-se pelo dia em que conseguirá sorrir sem culpa. A culpa inerente de ser feliz.
Caída na escada pôde ver a unha de um dos dedos do pé esquerdo sangrar sob a meia branca. Levantou-se de um só fôlego. Ninguém virá me ajuntar - pensou - a dor também pode ser controlada. Sem mancar, subiu o resto dos degraus. Lavou a própria meia, enfaixou o próprio dedo e nunca ninguém ficou sabendo disso.

sábado, setembro 01, 2007

Amor

O amor pode ser o Papai Noel
Pode ser Deus
Pode ser um vibrador
Pode ser a pessoa fascinante bem ao seu lado
Pode ser seu peixe
O travesseiro
Pode ser o sol
Ou aquele livro especial do qual no fundo você nem gosta
Pode ser sua mãe
Pode ser o pôster na sua parede
Um filme triste
Pode ser o feijão gelado na geladeira
A escolha foge ao controle.

Eu não sei. Ninguém sabe. Nós nunca saberemos. E isso também pode ser o amor.