segunda-feira, dezembro 23, 2013

Sobre o volume das perguntas


Há tantas perguntas por dentro 
Queimando 
O mundo está torto? 
Eu que estou de cabeça pra baixo? 
Tentei perguntar a um passante 
Mas falei tão baixinho 
 Que ele nem me ouviu 
Gritar me cansa 
 e nem refresca

terça-feira, novembro 26, 2013

Mais alto do que se pode ver



Primeiro o arrancaram de sua pátria para viver como bicho do outro lado do mar. 
Sugaram até sua última gota de sangue.
Depois expulsaram seus filhos para o alto.
Tão em cima que doía olhar.
E era preciso descer todo dia pra ganhar o pão.
E muitas vezes não tinha trabalho pra quem vivia lá.
E às vezes era preciso roubar.
E por vezes era melhor se drogar.
Mas então todo o chão já não bastava e os ricos queriam subir.
(Dizia-se que queriam a vista, mas desconfiei que estivessem de olho era naquele morro de amor).
Agora mandam seus netos descerem.
E não basta tirar-lhes a vida, a casa, o morro...
Tentam apagar sua história.
Faz todo sentido.
Criminosos apagam vestígios.

terça-feira, agosto 20, 2013

Zênite


Hoje aprendi uma nova palavra 
meio estranha 
e meio linda 
zênite 
o ponto mais alto do céu – e ele me provou com um desenho científico
Descobri onde fica 
o fecha parênteses 
do quanto eu te gosto 

(

segunda-feira, agosto 05, 2013

A velha torta comendo pipoca


Eu voltava para casa em um ônibus – este transporte de gado, bucólico, cheio de bois cansados que seguem a matadores – e na minha frente havia uma velha torta comendo pipoca. Alguma coisa tinha torcido a cara dela. O tempo, o vento, uma doença, um marido machão. Com a boca localizada no canto inferior esquerdo do rosto ela mastigava e mastigava e mastigava; uma pipoca atrás da outra. Um dos seus olhos também era repuxado. Dava pra ver um pouco da parte vermelha. De repente ela me surpreendeu vidrada em sua imagem. Disfarcei muito mal enquanto pensava quem a amava, quantos filhos havia posto no mundo, de quantos homens havia partido o coração, o que a emocionava.  Mais uma espiada. Ela tinha um jeito caricato de velha carrancuda, mas estava disfarçada com roupas normais. Usava uma blusa que me fez lembrar uma tia, talvez a mim no futuro. Desci. A velha torta ainda mastigava pipoca. 

quinta-feira, maio 23, 2013

Nova morada

Na janela do novo apartamento vejo um pedacinho importante da cidade. Hoje ele está estranhamente calmo. Gosto deste pedacinho. Já gostava antes de imaginar que um dia me mudaria para cá. Acho que porque ele parecia um trecho inexplorado, um tanto fora da rota, onde havia uma pizzaria em que ninguém nos encontraria. Tenho sentido falta de escrever, mesmo que escrever seja o que faço da vida. Na verdade, tenho sentido falta de pensar e escrever pra dentro (repetindo palavras livremente). Não sobra muito tempo para isso. A vida acaba por nos manter permanentemente embriagados. Só às vezes sobra espaço para momentos de insanidade. Minha cabeça ainda está tentando lidar com tamanha calma, mesmo em meio à barbárie (falo da vida e do apartamento, silencioso em meio ao caos). Não faço ideia de porque ela anda tão tranquila (desta vez falo da vida). Talvez porque eu tenha dividido meu tempo com as pessoas certas, tomado as decisões certas, me dedicado às coisas que realmente gosto, amado na medida certa, em forma e quantidade. A nova casa é grande e calma, assim como anda a vida. Nesse momento eu não queria estar em outras.

domingo, março 24, 2013

Luz no coração



Contou que batia uma certa angústia.
Aquela de domingo, sabe?
Devia ser o tempo.

Respondeu-lhe assim:
"Os passarinhos tão cantando
Vai abrir".

Foi como luz no coração.

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Prenúncio do outono

Hoje vi um gari varrendo folhas na praça 
Eram folhas secas 
Sob o sol escaldante do ainda verão elas pareciam descontextualizadas 
– também tinha um ventinho quase gelado – 
É o prenúncio do outono 
Estação meio fora do lugar, linda e sem sentido 
Meio fria, meio quente 
Meio alegre, meio triste 
Tal como a gente vai estar 
Ela anuncia o inverno 
E nele as tardes serão ainda mais lindas do que em novembro 
Sorrirás 
Dentro de belas 
Roupas 
E meias

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Vento

E o tempo passou
Sem parecer passar
Porque era vento
Leve
Forte
Beijava
Arrastava

Cuba

A Cuba fomos e em Cuba ficamos. Quando voltamos éramos outros. 
Nunca mais seremos os mesmos.



Sempre nós.